sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Xadrez por correspondência



Já lá vão mais de 30 anos quando joguei as minhas primeiras partidas de xadrez por correspondência, era ainda esta variante do jogo dos reis, dirigida pelo Dr. Jorge Babo do Ginásio Figueirense.
Naquela altura, o xadrez por correspondência, era a única forma para quem vivia afastado dos grandes centros, como eu, poder ter algum contacto com a competição xadrezista. Além dos torneio internos, do distrital de equipas e do distrital absoluto (quando era apurado, evidentemente), não tinha acesso a qualquer outra , das poucas competições que se realizavam em Portugal. A distância era um grande problema para quem vivia no interior. A comunicação com os grandes centros era lenta, difícil e dispendiosa.
Com o xadrez por correspondência tinha a possibilidade de poder jogar com um jogador de qualquer parte do país ou do mundo ao custo de um selo postal por lance (ou menos, quando eram aceites lances condicionais). Claro que as competições duravam uma "eternidade", mas foi assim que durante algum tempo consegui jogar alguns torneios individuais e campeonatos nacionais por equipas. Lembro-me de num desses nacionais por equipas, ter defrontado o Dr. Rodolfo Lavrador (que conheci pessoalmente no passado mês de Maio no Daminao), na altura em que éramos os 1.ºs tabuleiros das nossas equipas, eu do CDJ Ulme e ele do SL Benfica.
Nessa época a única forma de transmissão de lances, era a via postal, onerando também um pouco o orçamento, de tal forma que quem dirigia os destinos do xadrez por correspondência nacional tentou, sem sucesso, uma redução ou isenção nos portes para o xadrez postal. A única coisa que foi conseguido, foi a devolução de alguma correspondência, porque os postais emitidos e comercializados pelo Ginásio Figueirense, não tinham inscrito na frente "BILHETE POSTAL". Um absurdo que ultrapassámos, inscrevendo manualmente a indicação do  tipo de correspondência que se tratava. Este tornear da situação foi sol de pouca dura, pois os CTT voltaram novamente à carga e recomeçaram a devolver os nossos estimados lances, obrigando a que a inscrição tivesse que ser impressa tipograficamente. Lá tivemos que utilizar os postais dos CTT .
Por essa altura, era publicado um boletim que ia mantendo informada a comunidade do xadrez por correspondência relativamente ao que se ia passando a nível nacional.
Entretanto, durante algum tempo, afastei-me desta variante do xadrez e, quando quis regressar apercebi-me que a secção de xadrez do G. Figueirense já não estava a funcionar e já não haviam competições nacionais. Foi-me indicada a competição internacional. Como tinha vontade de voltar a enviar postais com lances de xadrez inscrevi-me num Torneio Mundial de 3.ª categoria organizado pelo ICCF (Federação Internacional de Xadrez por Correspondência). Nesse torneio, joguei com 2 americanos, um finlandês, um holandês, um inglês e um jogador da então RDA (República Democrática Alemã). Foi através deste torneio que tive acesso aos primeiros selos relativos aos Jogos Olímpicos de Los Angeles de 1982. Na transmissão dos lances havia sempre tempo para questionar ou comentar alguma coisa e neste torneio, lembro-me de questionar ao meu adversário alemão, sobre a situação política na RDA. Não obtive resposta, aliás, a partir dessa altura nunca mais recebi qualquer comentário e os seus postais demoravam uma eternidade a chegar.
Tempos da cortina de ferro e da guerra fria!
Em fins dos anos 80, voltei a participar num torneio nacional, já então organizado pela CNXC (Comissão Nacional de Xadrez por Correspondência), uma secção autónoma da FPX, o último que participei com lances transmitidos via CTT, pois no jogos em que substitui um jogador no Match Portugal-Finlândia, os lances já foram transmitidos via e-mail.
Depois de bastantes anos afastados do xadrez, voltei à modalidade e logo à variante por correspondência. Passados estes anos as coisas evoluíram muito e agora já se joga comodamente num webserver com custos bastante reduzidos (praticamente só o valor da inscrição), mas continua a ser o xadrez por correspondência uma hipótese de competição para quem tem dificuldades de deslocação para outros locais.
Aqui em Cabo Verde, sabendo das dificuldades que os xadrezistas das diversas ilhas têm para se defrontar, vi logo no xadrez por correspondência uma forma de ultrapassar o obstáculo da insularidade. E é assim que, com a grande ajuda do Pedro Soberano (presidente da CNXC), iniciei um processo para inscrição de Cabo Verde na ICCF de forma a que os jogadores cabo-verdianos pudessem disfrutar do prazer de jogar por correspondência, inclusivamente através do webserver. O processo iniciou-se, há alguns meses atrás, com a criação da ACXC (Associação Cabo-verdiana de Xadrez por Correspondência) através da AXSV (Associação de Xadrez de S. Vicente)  que entretanto solicitou ao ICCF a sua adesão como membro.
Em Setembro passado, no Congresso do ICCF, realizado em Leeds (Inglaterra), foi apreciado o nosso pedido de adesão e,  ao verificar-se que Cabo Verde não era membro da FIDE (Federação Internacional de Xadrez), de acordo com os estatutos do ICCF, não podia ser concedida a plena adesão. No entanto, Cabo Verde poderia entra como sendo um clube filiado, sem direito a voto e de participação na Olimpíada.
 O texto do relatório do congresso, relativamente à apreciação do nosso pedido de adesão, é o seguinte:


A formal application had been received from Cape Verde (CPV) but it was noted that it was not a FIDE member and therefore should not be granted full membership (Statute 2.1), but could be offered membership as an affiliated club (Statute 2.9) but without voting, nomination or team entry rights.

Após o congresso, o Sr. Erich Ruch (presidente do ICCF), a quem, durante o congresso, tinha solicitado que olhasse pelo nosso caso, enviou-me um mail, informando-me da decisão e propondo a filiação da ACXC nos moldes estatutários. Aceite esse convite, foi a altura de redigir e assinar o contrato de adesão, entretanto aprovado. Assim sendo, posso anunciar que a partir de 1 de Janeiro de 2010, Cabo Verde é mais um dos filiados no ICCF e que brevemente anunciarei o primeiro torneio nacional por correspondência, que será a TAÇA DE CABO VERDE EM XADREZ POR CORRESPONDÊNCIA. Portanto, os xadrezistas de Cabo Verde podem ir preparando-se para participarem na competição por correspondência.



Em baixo, uma partida jogada por correspondência, referente ao Torneio Comemorativo do 15.º aniversário da Federação da Eslovénia, em que ganhei ao búlgaro Alexandar Davidov, actualmente MI do ICCF.


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